Foto de uma mulher que olha séria para um casal que também está sério. Ela usa óculos e está com um dos braços no rosto e outro cruzado próximo ao corpo.

Família parental como sombra na relação

“- Quando eu estou com você eu sou muito, muito feliz. Mas a minha família é muito infeliz, e nosso casamento deveria ser uma coisa alegre, mas não será para eles, porque não pode ser em nossa igreja.

– Você é parte de sua família, e eu faço qualquer coisa para que eles me aceitem”.

O trecho acima foi extraído do filme Casamento Grego (2002/Direção de Joel Zwick).

Nesse diálogo entre a personagem Toula (Nia Vandarlos) e seu noivo Ian (John Corbett), Toula demonstra sua angústia em querer viver um grande amor com Ian em detrimento às tradições culturais, valores e crenças de seus familiares (no caso do filme, mais de seu pai), enquanto Ian, em sua ingenuidade apaixonada, “resolve” a questão da amada, se colocando à disposição em fazer qualquer coisa, no sentido de abrir mão de seus valores, crenças e tradições familiares para que a família de Toula o aceite.

No meu ponto de vista Ian está iludido pela cegueira da paixão, já que, por mais que ele ceda, em algum momento da relação haverá conflito e cobranças.

Quando nos casamos levamos nossos valores, crenças e padrões familiares adquiridos para a relação. Inevitavelmente, em algum momento, elas eclodirão em forma de sombras, abalando a relação e gerando conflitos.

Além disso, as projeções (positivas e negativas) das relações de nossos pais ou das figuras representativas do feminino e masculino que tivemos influenciam inconscientemente na busca de nossos (as) parceiros (as) bem como naquilo que idealizamos de uma relação.

No convívio, essas projeções e idealizações serão colocadas a prova no âmbito de expectativas criadas e não correspondidas que geram frustrações.

Retornando ao filme, Toula não pediu a Ian que abrisse mão de seus valores, crenças familiares para ficar com ele, mas Ian criou a expectativa de que, fazendo isso seria aceito por sua família. No momento em que ele se frustrar, em algum aspecto na correspondência dessa aceitação, depositará sua necessidade inconsciente por aceitação em Toula e na relação.

Vejo essa dinâmica se apresentar em muitos casais que atendo, relações de anos a fio onde expectativas de idealizações projetadas passadas permanecem atuais e incompreendidas.

O que fazer então?

  1. Um primeiro passo é compreender quais foram as expectativas e idealizações individuais que partiram da minha história de vida familiar as quais eu criei como verdades e projetei no outro(a) como realidade e obrigação de corresponder.
  2. O segundo passo é, a partir daquilo que compreendo que é importante ficar dessa história, o que não posso abrir mão em prol da relação? Em contrapartida, aquilo que não faz mais sentido e que posso deixar ir, comunico ao(à) meu(minha) parceiro(a) para que juntos, possamos trabalhar em prol de uma relação onde realmente a ACEITAÇÃO das diferenças acontece de forma genuína.

É uma tarefa fácil?

Claro que não!

É possível?

Por experiência pessoal e profissional, afirmo que SIM!

Sinopse do filme: Casamento Grego

O filme Casamento grego conta a história de Toula Portokalos (Nia Vardalos). Toula tem 30 anos, é grega e trabalha em Chicago, no restaurante da família (o ‘”Dancing Zorba”). Tudo o que o seu pai deseja é que ela arranje um bom marido grego, mas Toula quer algo mais na vida. A mãe convence então o marido a deixar a filha ter aulas de informática na universidade. Com estas aulas, ela toma conta da agência de viagens da tia, onde conhece Ian Miller (John Corbett), um WASP professor de inglês do liceu. Completamente o oposto do desejo de seu pai, ou seja, um não-grego.

Toula e Ian apaixonam-se e começam a namorar às escondidas, até a família dela descobrir tudo. O pai fica furioso e o resto da família fica em estado de choque com o facto de Toula namorar o rapaz. Mas o amor dos dois não acaba devido ao conflito gerado, e Kosta (Michael Constantine) aprende a aceitá-lo. Ian, por sua vez, tenta adaptar-se a esta grande família.